por Marcelo Jabur
Conceituar ética não deixará jamais de significar um desafio. É um recurso tão importante para julgar a capacidade profissional, que todo cuidado é pouco para caracterizar a presença ou ausência de ética nas atitudes no trabalho.
Aproveitando o fato de ter destacado a questão trabalho, não conseguiremos separar as questões éticas que norteiam a atuação profissional, daquelas que regem o comportamento nas atividades pessoais. Aquela velha história : “pessoal é pessoal e profissional é profissional”, como se fossem coisas separáveis. É um grande equívoco. As pessoas são as mesmas. O indivíduo que não tem respeito pela família, não preza pelo bom relacionamento em sua casa ou entende que, junto aos seus ele tem mais liberdade para agir de maneira menos compromissada, poderá, a qualquer momento, se sentir bastante confortável na empresa em que trabalha e, em um determinado, momento passar a se comportar com a mesma falta de compromisso. A responsabilidade se demonstra nas perspectivas pessoal e profissional.
“ÉTICA – Cuidar ou Desaparecer!”
Leonardo Boff em “Ética e Moral”, destaca a necessidade de um urgente compromisso da sociedade com a ética. Ele ressalta, fundamentalmente, a influência nociva que a falta da preocupação com o bem comum pode causar à ecologia. Podemos utilizar sua expressão “cuidar ou desaparecer” para demonstrar os efeitos que a ausência de conduta ética pode causar em nossa vida profissional e pessoal. A exigência do mercado vem, a cada ano, provocando um altíssimo senso crítico dos consumidores e empresários, no sentido de determinar padrões éticos de comportamento.
O conceituado escritor Içami Tiba, em uma de suas palestras, destaca ética como “fazer às pessoas o que gostaríamos que fosse feito para nós mesmos”. Baseado nesta afirmação (a qual concordo plenamente), devemos pautar nossas ações de acordo com o que esperamos das pessoas com relação aos nossos anseios.
Baseado neste conceito inicial, precisamos separar a conduta ética no ambiente de trabalho sob duas perspectivas: do empregado e do empregador. Mais precisamente, sob a visão e intervenção profissional do gestor (coordenador, diretor ou supervisor) e do funcionário que está na linha de frente.
Prefiro começar pelos princípios da ética aplicados na gestão de pessoas. A razão dessa preferência se baseia no fato de, muitas vezes, se desconsiderar o assunto quando o tema é avaliação do ambiente de trabalho. Normalmente, a preocupação ocorre com duas linhas principais: os clientes (e todo o universo que os envolve) e os funcionários que cuidam das funções operacionais. Esquece-se do estudo mais apurado das ações gerenciais da empresa avaliada. Os gestores devem basear suas condutas em princípios éticos muito bem delineados.
Essas pessoas são responsáveis diretas por, pelo menos, duas ações fundamentais no andamento do trabalho: o processo de contratação/demissão, bem como a determinação das atividades a serem exercidas pelas pessoas.
Tanto a contratação como a demissão são assuntos muito discutidos pelos profissionais diretamente ligados à área de recursos humanos. Muitas são as discussões levantadas no sentido de otimizar esse processo. O que cabe ao gestor é, antes de tudo, definir critérios claros, transparentes e profundamente profissionais para nortear suas atividades. A dignidade do colaborador deve sempre ser preservada. O filósofo alemão Kant orienta: “trate o ser humano sempre como fim, jamais como meio” e “aja de tal maneira que a máxima de sua ação possa valer como norma para todos”.
Quanto à determinação e orientação do trabalho dos profissionais que estão sob sua coordenação, há que se evitar a “coisificação” do funcionário (conforme destaca Paulo Gaudêncio). É fundamental que se tenha respeito à sua participação na empresa, clube ou escola como um membro importante e decisivo para o sucesso e para os fracassos obtidos. Atenção às necessidades e anseios, bem como às opiniões e sugestões para o aprimoramento das condições de trabalho e, em alguns casos, até das funções gerenciais.
Farah, em seu livro “Ética na Gestão de Pessoas”, destaca que do ponto de vista ético, todas as pessoas possuem os mesmos direitos e obrigações, equalizando o poder das pessoas ao se relacionarem com seus semelhantes. Na aplicação para o trabalho, percebe-se um crescimento do poder e da participação do funcionário/colaborador com a empresa, bem como a necessidade daqueles que obtêm o poder hierárquico, de abrir mão de uma parcela do poder que têm. O autor cita a agressividade como um componente a ser eliminado neste relacionamento hierárquico.
Respeito: todos querem ser respeitados. Sempre! Não há hipótese de tolerarmos violações constantes do respeito.
Voltamos para a regra de ouro: “fazer às pessoas o que gostaríamos que nos fizessem”. O atendimento e a prestação de serviços de forma ética prevê a consideração com as necessidades dos indivíduos que nos cercam, de acordo com o que queremos que seja feito conosco ou com as pessoas que queremos bem.
Bom trabalho!
Marcelo Jabur é professor e palestrante com atuação pelo Brasil há 13 anos. Trabalha como Coach Executivo junto a gestores dos mais variados segmentos. É doutorando em Psicologia pela USP e mestre em Ciências do Esporte pela UNICAMP. Sua formação em Coach Executivo e Pessoal é pela Lambent do Brasil, sendo membro da International Coaching Community. É também professor da Fundação Getúlio Vargas (MBA – FGV Management).
Fonte: Celulose Online
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